sábado, 14 de janeiro de 2012

Condições Iniciais

Um homem atravessa, sozinho, uma praça. Avança, olhar em frente, sem qualquer expressão. Dele sai um pequeno murmúrio.


Tu acreditas que ele conta uma história. Uma qualquer récita extraordinária que lhe direcciona o olhar e compassa o andar.

Agora ele detém-se, desenha o corpo entre o grave e a festa.


Porque é que é, para ti, tão importante entenderes esta história?


Anoitece. Faz frio. Decido sair do meu abrigo. Algo me ordena a seguir aquele homem. A sua silhueta desdobra-se sobre o halo dos candeeiros. Observo-o divagar. A sua sombra agarra-se às paredes e muros. Ele brinca com as possibilidades dispersivas de si mesmo.

P
Vocês atravessam parques habitados por cães que um dia tiveram um dono. Lá longe a cidade parece pertencer a um outro mundo.


Poderíamos dizer: um copo de luz.


Amanhã, quando acordares, estará tudo ainda lá?


O homem continua a avançar na penumbra. Alguns passos mais e vira-se, bruscamente, na minha direcção.

O seu murmúrio assemelha-se à melodia de uma prece. Ele parece não reparar em ti, mas tu sabes que ele te espera. Visto de perto assemelha-se a ti.


Pergunto-lhe: o que é que contas? Ele não responde; o que me faz duvidar da sua existência.


Estás quase a tocar-lhe quando ele te diz: conto o que vais escrever.

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