segunda-feira, 2 de julho de 2012




Gostaria de continuar a narrar o amor, mas de mim pende uma lua pequena em quarto minguante, mostrando o avesso do sentir. Gostaria de desmontar o medo, em lugar de cavalgar no seu dorso. Gostaria de ficar para sempre assim, nesta paixão nómada, com as marcas de todas as dores e prazeres que são fiéis ao amor, mas sinto-me esbracejante e frágil, como o afogado. Flutuo no silêncio e não vislumbro terra.









A vida é uma crença como outra qualquer. Como uma religião. Vive-se como se vai à missa: entre a fé e a dúvida.





A leitura mais exacta do mundo – o céu, as nuvens, a montanha e o mar.
O resto, apenas a especulação que as palavras trazem, o desenvolvimento de certos temas, o corpo encostado à pedra, esperando que desta vez não chova.
E há as cores da vida, que mudam a cada instante, como se as cidades fossem apenas alturas de lentas transições.

Isolda




As lágrimas correm pelo rosto das mulheres e elas nem se apercebem disso. Lacrimosas são, todas as mulheres, invocadas por algum deus cruel. 

domingo, 1 de julho de 2012

A maior parte dos começos assemelha-se. Assim como a maior parte dos romances. Assim como a maior parte das vidas. A maior parte das vidas tenta imitar os romances que imitam a vida. A vida é uma catástrofe. A maior parte dos romances assemelha-se à catástrofe da vida que, por sua vez, não se assemelha a nada. Exactamente como a maior parte dos começos.











Ainda há quem acredite

Lugares comuns




Sem céu sobre Paris



dos lugares comuns: o cavalo do eterno retorno

domingo, 15 de janeiro de 2012

A arte da magia é fazer da superstição uma realidade, tão válida e verosímil como a chuva que cai. 

Ditos

Nem tudo é para ser entendido, nem tudo é para ser resolvido. Por vezes, tudo está bem assim: caótico e não compreensível. Nada tem que terminar em felicidade, e há um momento em que se tem de terminar o que já não faz sentido. Arquivar como coisa vivida. 

sábado, 14 de janeiro de 2012

Condições Iniciais

Um homem atravessa, sozinho, uma praça. Avança, olhar em frente, sem qualquer expressão. Dele sai um pequeno murmúrio.


Tu acreditas que ele conta uma história. Uma qualquer récita extraordinária que lhe direcciona o olhar e compassa o andar.

Agora ele detém-se, desenha o corpo entre o grave e a festa.


Porque é que é, para ti, tão importante entenderes esta história?


Anoitece. Faz frio. Decido sair do meu abrigo. Algo me ordena a seguir aquele homem. A sua silhueta desdobra-se sobre o halo dos candeeiros. Observo-o divagar. A sua sombra agarra-se às paredes e muros. Ele brinca com as possibilidades dispersivas de si mesmo.

P
Vocês atravessam parques habitados por cães que um dia tiveram um dono. Lá longe a cidade parece pertencer a um outro mundo.


Poderíamos dizer: um copo de luz.


Amanhã, quando acordares, estará tudo ainda lá?


O homem continua a avançar na penumbra. Alguns passos mais e vira-se, bruscamente, na minha direcção.

O seu murmúrio assemelha-se à melodia de uma prece. Ele parece não reparar em ti, mas tu sabes que ele te espera. Visto de perto assemelha-se a ti.


Pergunto-lhe: o que é que contas? Ele não responde; o que me faz duvidar da sua existência.


Estás quase a tocar-lhe quando ele te diz: conto o que vais escrever.

A última polaroid


Sem céu sobre Berlim e, no entanto, os anjos sobrevivem. Os anjos falam, invariavelmente, alemão.

Um mês de dias parados

O que faz alguém escrever? Haverá, ainda, algo a ser nomeado no mundo que mereça ser escutado? Na História estaremos todos mortos. Continuamos, no entanto, a necessitar de estórias. Não se tem acrescentado muito à dramaturgia do mundo: Amor, Poder, Existência... Baralhar tudo e fazer com que pareça novo.